Oficina do Livro - Filhas (Opinião)

Paulo José Miranda



















Memórias e segredos num ziguezague que intercala o romance histórico e o presente, como o tempo de um jogo de futebol.
1746. O rei D. João V anuncia aos habitantes das ilhas dos Açores que a Coroa concede benefícios a quem decidir emigrar para o litoral sul do Brasil.
Ao embarcar nesta aventura, João Cabral cruza-se com Maria de Fátima, uma mulher fascinante e invulgarmente emancipada para época.
Desta união nasce uma descendência que marcará a saga da família Oliveira Cabral e a origem da colonização do Sul do Brasil, Florianópolis, antiga Ilha do Desterro.
Paulo José Miranda conduz-nos pela intimidade desta família através de uma empolgante viagem pelos laços que unem pai e filhas, Portugal e o Brasil.
Opinião 
Intercalando o passado e o presente, o autor revela-nos não só a ligação existente entre Portugal e o Brasil, como a relação entre pais e filhas ao longo de várias gerações.
Em 1746 João Cabral embarca para o Brasil em busca de uma vida melhor para si e para os seus. Cedo alcança o sucesso que pretendia mas está longe de saber que toda a sua descendência será marcada por relações conturbadas entre pais e filhas.
No presente, e entre relatos de futebol, desenrola-se a história de Artur, um viúvo de 53 anos que é pai de uma jovem de 20 anos.
Ao longo do livro somos conduzidos ao longo destas duas histórias diferentes, uma no passado e outra no presente, mas ligadas entre si pelo amor e desamor entre pais e filhas.
É através dessas duas histórias que nos vamos apercebendo que o amor de um pai por uma filha pode ser um sentimento agridoce, cheio de alegrias (a filha é a reprodução da mulher amada e prematuramente perdida) mas também de medos e incertezas pois a filha é também um ser ser frágil que o pai tem o dever proteger. Ao olhar para a mulher adulta que é a filha, o pai nunca consegue esquecer a criança que embalou nos braços enquanto criança. Mas a filha é também uma mulher bonita e atraente, na flor da idade e nem um pai pode negar a atracção que esta desperta aos outros homens.
Explorando a dinâmica das relações entre pais e filhas, ora no presente ora no passado, o autor apresenta-nos que os sentimentos das filhas pelos pais nem sempre são consensuais: pode-se amar um pai a ponto de ter ciúmes da relação dele com outras mulheres, mas pode-se também, com a mesma intensidade, odiar o homem que a gerou.
Apesar de ter gostado do livro pela forma como explora os diferentes sentimentos que podem surgir entre pais e filhas, por várias vezes dei comigo perdida entre o passado e o presente, entre discussões ora contra ora a favor da escravatura e relatos de jogos de futebol. Achei o discurso um pouco repetitivo tanto no uso das palavras "pai" e "filha", como na exposição das ideias do autor. Visto que na parte da história que decorre no presente se "fala" Português do Brasil houve algumas expressões que não consegui compreender plenamente.  

Ainda assim vale a pena ler este romance que mostra-nos, a nós filhas, a perspectiva de um pai que vê a filha crescer e a afastar-se de si para se "perder" no mundo.

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